Pela primeira vez, cem crianças, adolescentes e idosos da Zona da Mata Norte de Pernambuco vão deixar as ruas de terra batida de suas cidades para atravessar estradas rumo a um universo que só conheciam pela televisão: o teatro. Eles embarcam, entre os dias 25 e 27 de julho, na Caravana Cultural ÎANDÉ, uma ação que integra a estreia do espetáculo solo do multiartista Adri Popular, de 27 anos, no Teatro Fernando Santa Cruz, no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda.
A viagem é mais do que um deslocamento. Para muitos, é a primeira vez fora do município onde nasceram, a primeira vez dentro de um ônibus rumo a um espaço cultural, a primeira vez sentados diante de um palco. A iniciativa se soma ao período das férias escolares e transforma o mês de julho em um marco para cem vidas, marcadas até aqui pela rotina de lavouras e cidades sem opções de lazer.
“É mais que assistir a um espetáculo. É sentir que o teatro também é para eles. E o mais bonito é saber que, no palco, estará um conterrâneo, um jovem que cresceu ali e sonhou além”, diz Adri, natural de Aliança (PE).
Na sexta-feira (25), cinquenta crianças e jovens do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) de Aliança, acompanhados pela maestrina Camila e orientadores sociais, vão percorrer cerca de 75 km até Olinda. Eles serão recebidos no hall do teatro pela própria Banda Musical do SCFV, formada por crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, que tocarão para anunciar uma noite histórica.
No sábado (26) e domingo (27), mais duas caravanas culturais, com 30 vagas cada, levarão crianças, adolescentes, adultos e idosos acompanhados por familiares para vivenciar o espetáculo. As saídas estão programadas para às 17h, de Aliança, com chegada prevista pouco antes do início das apresentações às 19h.
A cada sessão, o público da Mata Norte terá lugares reservados entre os 150 assentos do teatro, garantindo que a democratização do acesso seja mais do que um discurso: seja prática.
No palco, Adri faz do corpo um território de resistência. O maracatu rural, o coco de roda, a ciranda e o cavalo-marinho se misturam a sons eletrônicos e imagens digitais, criando uma narrativa que conecta passado e futuro. ÎANDÉ – que em tupi antigo significa “nós” – transforma o teatro em um terreiro de memórias, onde a ancestralidade dança com a tecnologia.
“Eles vão atravessar quilômetros de estrada para se verem no palco, para entenderem que ali também é o lugar deles”, resume o artista.
As sessões são gratuitas e acessíveis, com intérpretes de Libras, cadeiras reservadas e espaços adaptados para pessoas com mobilidade reduzida.
O espetáculo ÎANDÉ é uma realização de Adri Popular e do coletivo Canavial Arte e Cultura, com incentivo do Funcultura, Fundarpe e Secretaria de Cultura de Pernambuco. Conta com apoio da Prefeitura de Aliança, Sociedade Reviva, Ponto de Cultura 15 de Novembro, Escola de Dança José Corrêa, Mercado Eufrásio Barbosa, Adepe e Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
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